Mostrando postagens com marcador pronto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador pronto. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Quando meu texto estará pronto?


Nas redes sociais há muitas páginas voltadas a escritores iniciantes onde trocam experiências e conselhos para aprimorar a escrita. Nelas há quem peça sugestões para elaborar personagens, outros questionam sobre soluções narrativas, ou querem dicas de como vencer o bloqueio de escritor, e assim seguem uns ajudando os outros.

Já respondi algumas dessas perguntas. Recentemente, duas delas, em particular, me chamaram a atenção, não tanto pelas dúvidas em si, mas pelas respostas que receberam. Achei que seria útil comentar essas dúvidas, pois um conselho de alguém inexperiente, por mais bem intencionado que seja, pode ser mais prejudicial que benéfico.

Vejamos a primeira questão.

A pessoa que pedia ajuda dizia ter escrito um conto que, depois de algum tempo de “descanso”, foi revisado e, agora, poderia ser considerado praticamente pronto. Mesmo assim, ao ler a história, o(a) autor(a) conseguia identificar algumas falhas, mas a correção exigiria uma reescrita bastante extensa. Perguntava, então, se deveria reescrevê-lo ou se poderia publicá-lo naquele estado, mesmo com os problemas que tinha, reconhecendo-o como um trabalho de segunda linha.

As respostas que surgiram eram mais ou menos assim:

“Se o texto passa a emoção desejada, considere pronto. Um conto precisa ir direto ao ponto e esses retoques alterariam a dinâmica da trama. Se fosse um texto mais longo até haveria espaço para ajustes, mas num conto…”

“Dê para uma pessoa aleatória ler. Se ela achar que está bom, considere pronto, porque temos a tendência de, a cada lida, querer mudar alguma coisa.”

O problema com esses conselhos é que se baseiam em premissas erradas. Mesmo que você escreva por hobby, não significa que possa abrir mão de uma atitude profissional. Se o(a) próprio(a) autor(a) reconhece que o conto tem falhas, como pode sequer cogitar que o conto seja liberado, publicado ou divulgado sem corrigi-las? A pergunta já revela, em si, uma certa preguiça. A pessoa se desanimou com a necessidade de fazer correções muito grandes no texto, porque daria muito trabalho, então estava disposta a deixá-lo assim e aceitar que não era sua obra mais primorosa.

Mas um autor mais experiente sabe que é justamente durante as revisões que mais aprendemos. Mesmo sendo amadores, se queremos aprender e, um dia, sermos reconhecidos pela qualidade dos nossos textos, não podemos admitir que nosso trabalho vá a público com erros que nós mesmos já identificamos. Já é ruim o bastante deixar passar os erros que não vimos; muito pior é conhecê-los e não corrigi-los.

O que há de errado, então, com as respostas que foram mencionadas acima?

Um conto realmente exige uma objetividade maior. Mas isso não quer dizer que as falhas possam ser negligenciadas. A dinâmica é afetada? Continue revisando. Modele essa massa até ficar satisfeito com o resultado.

E aí entramos na seara do segundo conselho: mostrar a uma pessoa aleatória e ver se essas falhas são percebidas. É bem possível – e eu diria que é praticamente certo – que esse leitor “randômico” ache o texto bom e não faça críticas a ele. Talvez não perceba sequer as falhas que já foram vistas por quem o escreveu. Mas isso não significa que ele esteja pronto. Isso só evidencia que o leitor médio é pouco exigente e, principalmente, não está treinado a analisar um texto de forma crítica, procurando as falhas e apontando-as ao(à) autor(a).

Vejamos agora uma segunda pergunta que garimpei nas redes sociais: quando considerar o texto pronto; quantas vezes revisar e a quem mostrar para ter uma opinião isenta?

Já ficou claro que não devemos mostrá-lo a qualquer um. Então, a quem entregar essa importante missão? Precisa ser uma pessoa que não tenha medo de nos apontar os erros que não percebemos. Uma pessoa que nos diga o que precisa ser dito, e não o que gostamos de ouvir. Nessa hora temos de estar abertos às críticas. Não queremos que nos passem a mão na cabeça e digam: “Que lindo! Adorei.”

Onde encontrar, então, essa pessoa? Certamente não será um parente ou amigo, que só nos trará elogios e, quando muito, dirá se gostou ou não da história, sem ir a fundo na gramática, na estrutura, no enredo, no ritmo, na coerência, na adequação, nos vícios e em outras falhas comuns dos iniciantes.

A pessoa escolhida, caso você esteja realmente disposto(a) a aprender a arte da escrita e nela se aprimorar, deve ser alguém que escreve melhor que você. Se encontrar alguém experiência em revisão e análise crítica, como um editor ou revisor, melhor ainda. Mas não são todos que têm a sorte de ter um parente ou conhecido com esse perfil.

A solução para esse impasse é contratar um profissional, e nisso pesarão os seus objetivos pessoais. Se você só pretende publicar um blog e não tem intenção de se tornar um escritor profissional nem quer refinar sua arte, então essa etapa é dispensável. Aceite que seus textos serão sempre medíocres e continue fazendo histórias que serão consumidas apenas por seu círculo de amizades.

Se, por outro lado, você quer mesmo ser escritor e conquistar cada vez mais leitores, então talvez deva considerar a contratação de uma pessoa que faça esse trabalho profissionalmente. O custo desse tipo de serviço é proporcional ao tamanho do texto analisado, portanto, se você escreve contos curtos, não vai gastar muito. O benefício para seu aprendizado, no entanto, será imenso. Um profissional competente não só vai apontar suas falhas e sugerir formas de corrigi-las, mas falará do texto como um todo: conteúdo e forma. Também não temerá lhe dizer a verdade por medo de ferir seus sentimentos.

Em resumo, quando poderemos, então, considerar que o texto está realmente pronto?

Quando ele tiver passado pelos dois filtros: o do autor (ou autora) que o revisou até não encontrar mais erros, e o do crítico, que apontou os erros que o(a) autor(a) não foi capaz de ver. Como todos somos humanos, ainda poderá haver falhas, mas esse é o mínimo que se deve fazer para considerar um texto como finalizado e aceitável para divulgação ao público.

O importante é que ninguém pode se considerar escritor(a) se não estiver disposto(a) a revisar o texto antes de publicá-lo. A maior parte do trabalho de escrita é justamente a revisão. Um texto não revisado, não é um texto, é um rascunho. E escritores(as) de verdade não publicam rascunhos.





A propósito, caso tenha interesse em contratar um serviço profissional de revisão do seu texto, pode fazer um orçamento com a Oficina do Escritor.