Nas redes
sociais há muitas páginas voltadas a escritores iniciantes onde trocam
experiências e conselhos para aprimorar a escrita. Nelas há quem peça sugestões
para elaborar personagens, outros questionam sobre soluções narrativas, ou
querem dicas de como vencer o bloqueio de escritor, e assim seguem uns ajudando
os outros.
Já respondi
algumas dessas perguntas. Recentemente, duas delas, em particular, me chamaram
a atenção, não tanto pelas dúvidas em si, mas pelas respostas que receberam.
Achei que seria útil comentar essas dúvidas, pois um conselho de alguém
inexperiente, por mais bem intencionado que seja, pode ser mais prejudicial que
benéfico.
Vejamos a
primeira questão.
A pessoa que
pedia ajuda dizia ter escrito um conto que, depois de algum tempo de “descanso”,
foi revisado e, agora, poderia ser considerado praticamente pronto. Mesmo
assim, ao ler a história, o(a) autor(a) conseguia identificar algumas falhas,
mas a correção exigiria uma reescrita bastante extensa. Perguntava, então, se
deveria reescrevê-lo ou se poderia publicá-lo naquele estado, mesmo com os
problemas que tinha, reconhecendo-o como um trabalho de segunda linha.
As respostas
que surgiram eram mais ou menos assim:
“Se o texto
passa a emoção desejada, considere pronto. Um conto precisa ir direto ao ponto
e esses retoques alterariam a dinâmica da trama. Se fosse um texto mais longo
até haveria espaço para ajustes, mas num conto…”
“Dê para uma
pessoa aleatória ler. Se ela achar que está bom, considere pronto, porque temos
a tendência de, a cada lida, querer mudar alguma coisa.”
O problema com
esses conselhos é que se baseiam em premissas erradas. Mesmo que você escreva por
hobby, não significa que possa abrir mão de uma atitude profissional. Se o(a)
próprio(a) autor(a) reconhece que o conto tem falhas, como pode sequer cogitar
que o conto seja liberado, publicado ou divulgado sem corrigi-las? A pergunta
já revela, em si, uma certa preguiça. A pessoa se desanimou com a necessidade
de fazer correções muito grandes no texto, porque daria muito trabalho, então
estava disposta a deixá-lo assim e aceitar que não era sua obra mais primorosa.
Mas um autor
mais experiente sabe que é justamente durante as revisões que mais aprendemos. Mesmo
sendo amadores, se queremos aprender e, um dia, sermos reconhecidos pela
qualidade dos nossos textos, não podemos admitir que nosso trabalho vá a
público com erros que nós mesmos já identificamos. Já é ruim o bastante deixar
passar os erros que não vimos; muito pior é conhecê-los e não corrigi-los.
O que há de
errado, então, com as respostas que foram mencionadas acima?
Um conto
realmente exige uma objetividade maior. Mas isso não quer dizer que as falhas
possam ser negligenciadas. A dinâmica é afetada? Continue revisando. Modele
essa massa até ficar satisfeito com o resultado.
E aí entramos
na seara do segundo conselho: mostrar a uma pessoa aleatória e ver se essas
falhas são percebidas. É bem possível – e eu diria que é praticamente certo – que
esse leitor “randômico” ache o texto bom e não faça críticas a ele. Talvez não
perceba sequer as falhas que já foram vistas por quem o escreveu. Mas isso não
significa que ele esteja pronto. Isso só evidencia que o leitor médio é pouco
exigente e, principalmente, não está treinado a analisar um texto de forma
crítica, procurando as falhas e apontando-as ao(à) autor(a).
Vejamos agora
uma segunda pergunta que garimpei nas redes sociais: quando considerar o texto
pronto; quantas vezes revisar e a quem mostrar para ter uma opinião isenta?
Já ficou claro
que não devemos mostrá-lo a qualquer um. Então, a quem entregar essa importante
missão? Precisa ser uma pessoa que não tenha medo de nos apontar os erros que
não percebemos. Uma pessoa que nos diga o que precisa ser dito, e não o que
gostamos de ouvir. Nessa hora temos de estar abertos às críticas. Não queremos
que nos passem a mão na cabeça e digam: “Que lindo! Adorei.”
Onde
encontrar, então, essa pessoa? Certamente não será um parente ou amigo, que só
nos trará elogios e, quando muito, dirá se gostou ou não da história, sem ir a
fundo na gramática, na estrutura, no enredo, no ritmo, na coerência, na
adequação, nos vícios e em outras falhas comuns dos iniciantes.
A pessoa escolhida,
caso você esteja realmente disposto(a) a aprender a arte da escrita e nela se
aprimorar, deve ser alguém que escreve melhor que você. Se encontrar alguém
experiência em revisão e análise crítica, como um editor ou revisor, melhor
ainda. Mas não são todos que têm a sorte de ter um parente ou conhecido com
esse perfil.
A solução para
esse impasse é contratar um profissional, e nisso pesarão os seus objetivos
pessoais. Se você só pretende publicar um blog e não tem intenção de se tornar
um escritor profissional nem quer refinar sua arte, então essa etapa é
dispensável. Aceite que seus textos serão sempre medíocres e continue fazendo
histórias que serão consumidas apenas por seu círculo de amizades.
Se, por outro
lado, você quer mesmo ser escritor e conquistar cada vez mais leitores, então
talvez deva considerar a contratação de uma pessoa que faça esse trabalho profissionalmente.
O custo desse tipo de serviço é proporcional ao tamanho do texto analisado, portanto,
se você escreve contos curtos, não vai gastar muito. O benefício para seu
aprendizado, no entanto, será imenso. Um profissional competente não só vai
apontar suas falhas e sugerir formas de corrigi-las, mas falará do texto como
um todo: conteúdo e forma. Também não temerá lhe dizer a verdade por medo de
ferir seus sentimentos.
Em resumo,
quando poderemos, então, considerar que o texto está realmente pronto?
Quando ele
tiver passado pelos dois filtros: o do autor (ou autora) que o revisou até não
encontrar mais erros, e o do crítico, que apontou os erros que o(a) autor(a)
não foi capaz de ver. Como todos somos humanos, ainda poderá haver falhas, mas
esse é o mínimo que se deve fazer para considerar um texto como finalizado e
aceitável para divulgação ao público.
O importante é
que ninguém pode se considerar escritor(a) se não estiver disposto(a) a revisar
o texto antes de publicá-lo. A maior parte do trabalho de escrita é justamente
a revisão. Um texto não revisado, não é um texto, é um rascunho. E
escritores(as) de verdade não publicam rascunhos.
A propósito, caso tenha interesse em contratar um serviço profissional de revisão do seu texto, pode fazer um orçamento com a Oficina do Escritor.