Regência
verbal é o tipo de assunto que, num estudo superficial, parece simples.
Analisado mais a fundo, no entanto, prega muitas peças. Um caso específico em
que o aluno acaba por se confundir quando redige uma dissertação é a combinação
de regência verbal com o pronome relativo.
Já falei
disso num outro artigo, mas vou tentar detalhar mais e facilitar para você que
está prestando vestibular.
A linguagem
falada parece indicar que o pronome relativo nunca exige complemento.
Parece-nos até feio usar a regência correta quando estamos conversando. Talvez a
regência correta dê um ar pedante à fala, como qualquer fala muito correta. Mas
devemos lembrar que na redação é exigido o domínio da norma culta, então
precisamos nos desfazer desse preconceito linguístico às avessas e prestar mais
atenção à regra.
Não há dúvida
de que o verbo gostar requer o uso da preposição “de”.
Paulinho gosta daquela menina. (daquela =
de + aquela)
José gosta de
chocolate.
Gostei do seu penteado. (do = de + o)
Por que,
então, quando o pronome relativo é introduzido na equação, os candidatos se
esquecem de usar a preposição “de”?
Aquela é a menina que o Paulinho gosta.
O que José gosta?
Em todas
essas orações o “de” foi subtraído. Na sua redação não abra mão dele. Essas
frases estão erradas, a regência foi violada, e você perderá pontos se as
escrever assim. Antes, prefira a forma correta:
Aquela é a menina DE que o Paulinho gosta.
DO que José gosta?
Não vem ao
caso discutir aqui o porquê desse fenômeno. Na redação isso é considerado erro,
não é aceito, e ponto final. Vejamos outros casos de regência verbal que também
acabam se corrompendo na presença do pronome relativo. Tentarei exemplificar
com frases bastante corriqueiras, do tipo que se ouve todo dia.
Errado: O
restaurante que eu fui servia comida chinesa.
Certo: O
restaurante A que eu fui servia comida chinesa.
Errado: Na
rua que eu moro tem uma casa abandonada.
Certo: Na
rua EM que eu moro tem uma casa abandonada.
Errado: Era
bom o filme que eu assisti.
Certo: Era
bom o filme A que eu assisti.
Errado: Eis
aqui uma pessoa que eu confio.
Certo: Eis
aqui uma pessoa EM que eu confio.
Errado: O
amigo cuja casa ele foi, ficou doente.
Certo: O
amigo A cuja casa ele foi, ficou doente.
Errado: Esse
é o livro o qual te falei.
Certo: Esse
é o livro DO qual te falei.
Agora, como
saber que é preciso corrigir a regência nessas frases? No cotidiano fala-se
desse jeito, o aluno está acostumado a falar assim, parece-lhe certo escrever
também dessa forma.
O truque é
desconstruir a frase para nos certificarmos da regência. Para saber se aquela é
a menina que Paulinho gosta ou de que o Paulinho gosta, é só separarmos a frase
em duas, eliminando o pronome relativo.
“Aquela é a menina DE que o Paulinho
gosta.” porque “Paulinho gosta DAQUELA (de + aquela) menina”.
“Quero saber DO (de + o) que José gosta”
porque “José deve gostar DE alguma coisa.”
Então, da
mesma forma, podemos analisar os exemplos subsequentes.
Eu fui AO (a + o) restaurante.
Eu moro NA (em + a) rua.
Eu assisti AO (a + o) filme.
Eu confio NA (em + a) pessoa.
Ale foi À (a + a) casa do amigo.
Falei-te DO (de + o) livro.
Como se pode
ver, não é difícil, desde que a regência do verbo utilizado seja conhecida.
Nesse caso, é apenas uma questão de atenção e de prática.
Abraço
fraternal do Professor Rafael.