sexta-feira, 3 de março de 2017

Chorando se foi a Regência Verbal

Um erro muito comum, que me incomoda, mas que parece não receber a devida atenção no meio acadêmico, é o erro de regência verbal. Quando a frase é direta, é fácil perceber o erro. O problema é que, em orações subordinadas, quando o objeto é substituído por uma oração, o erro de regência parece se ocultar na complexidade da frase.

Vejamos um exemplo bem cotidiano para ilustrar o que eu digo.

“Ela gosta do rapaz.”

O verbo “gostar” exige a preposição “de” e acho que mesmo quem não é muito fã de gramática jamais diria “Ela gosta o rapaz”. Essa é uma frase simples, direta, de uma única oração. Agora vejamos o que acontece quando colocamos essa oração como subordinada de outra.

“Esse é o rapaz que ela gosta.”

Temos dois verbos nessa frase, portanto duas orações. O verbo “ser” em “esse é o rapaz”, e o verbo gostar em “que ela gosta”. O problema é que a construção dessa frase está errada. E o erro está justamente na regência verbal do verbo gostar. Ele é transitivo indireto e sabemos que ele exige o “de”, como já dissemos mais acima. A oração “que ela gosta” é uma oração subordinada adjetiva restritiva. Ela faz o papel de um adjetivo que qualifica e restringe a palavra “rapaz”. Esse não é qualquer rapaz. É um rapaz especial.  O pronome “que” nessa oração tem a finalidade de evitar a repetição da palavra “rapaz”. Separando as orações e substituindo “que” por “rapaz”, a segunda oração ficaria “ela gosta o rapaz” ficando assim evidenciado o erro.

A construção correta dessa frase seria, então: “Esse é o rapaz de que ela gosta.”

Esse é um erro muito comum que é fácil de ser encontrado em letras de músicas, campanhas publicitárias, manchetes e notícias de jornal. Basta estar atento. Na minha opinião, isso evidencia o descuido com que esse tema é tratado nas aulas de gramática. Como pode um publicitário ou jornalista cometer um erro desses?

Veja o exemplo de uma canção que fez muito sucesso um tempo atrás.

“Chorando se foi quem um dia só me fez chorar.
Chorando estará ao lembrar de um amor que um dia não soube cuidar.”

Você, leitor, sabe me apontar onde está o erro de regência verbal? Depois da explicação acima fica fácil percebê-lo, não é?

Então, se você ama o português como eu, não vai deixar passar esse tipo de erro.

Mostre pra mim que você está atento. Comente sobre outros erros semelhantes de regência verbal encontrados por você em músicas, notícias ou campanhas publicitárias.

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