domingo, 20 de agosto de 2017

Dois erros comuns em relação ao corretor ortográfico

Há dois erros muito comuns com os quais me deparo em textos que devo revisar.


O primeiro é não confiar no corretor ortográfico. Não sei se o desligam para evitar as marquinhas de correção, ou se simplesmente ignoram as palavras sublinhadas em vermelho. É lógico que ele não é perfeito. Mas por que não usá-lo? O editor de textos possui recursos para evitar que palavras corretas apareçam como erradas. Se o corretor indica uma palavra que temos certeza de estar certa, basta clicar com o botão direito sobre ela e escolher a opção de acrescentá-la ao dito dicionário.

O risco de cometer esse primeiro erro é enviar um texto cheio de palavras erradas e que, ainda por cima, estarão em destaque no editor de textos do receptor.

O segundo erro comum é justamente o contrário. Trata-se de confiar demais no corretor ortográfico. É achar que ele fará todas as correções possíveis e que, ao aceitar a sugestão de substituição em todas as palavras sublinhadas em vermelho, não haverá mais erros. Grande engano. Isso também evidencia que a pessoa desconhece o funcionamento do corretor ortográfico.

Esse recurso consiste numa simples verificação das palavras digitadas contra um banco de dados a que chamam de dicionário. Se a palavra está lá, ele não a marca. Se está, ele põe um sublinhado vermelho sinuoso sob a palavra digitada. Se, por exemplo, você escreveu “calorozamente”, como essa palavra não consta no dicionário, ela será identificada como errada. Então você poderá deixar o aplicativo substituí-lo pela palavra sugerida – “calorosamente” –, ou apenas trocar o “z” pelo “s”.

Mas há muitos casos em que o corretor não identifica o erro da palavra, pelo simples fato de que a palavra existe e consta do dicionário. “Mas então”, você poderá se questionar, “não significa que ela está certa?” Não. O fato de a palavra existir não significa que ela está sendo usada no contexto correto. A palavra existe, está escrita de forma correta, mas não deveria estar lá.

Talvez você entenda melhor com um exemplo. As palavras “viagem” e “viajem” existem. Ambas são corretas. A primeira é um substantivo. A segunda é o verbo viajar, na terceira pessoa do plural, presente do subjuntivo. Portanto, se a frase for: “Espero que façam uma boa viajem”, não haverá marcação de erro, embora seja errado usar o verbo no lugar do substantivo.

Enfim, apesar de ser chamado de dicionário, ele é apenas um banco de dados que confere se a palavra existe ou não. O aplicativo não é capaz de identificar se a palavra é adequada ao contexto. Pensa que esse é um caso atípico ou raro? Garanto que não. Veja os pares de palavras a seguir e tente imaginar frases com essas palavras trocadas: acharam/acharão, comeram/comerão, angústia/angustia, mágoa/magoa, calcada/calçada, ágora/agora, específica/especifica. Esses são só alguns exemplos. Há muitos casos mais. São palavras que, por existirem nas duas formas, o corretor não identificará como erradas. Portanto, se for esquecido um acento ou cedilha, a frase ficará errada e apenas uma leitura atenta poderá detectar isso.

O corretor ortográfico é só uma ferramenta para ajudar a detectar erros de digitação. Ele não corrige seu texto. A revisão é indispensável. Não duvido que os programas fiquem cada vez melhores e sejam cada vez mais capazes de identificar esse tipo de erro. Mas até lá, conhecer gramática e ortografia ainda são essenciais para quem precisa escrever um texto corretamente. 

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Núcleos e concordância

Já ouvi ou li muita recomendação de usar preferencialmente frases curtas para se produzir um bom texto. Eu discordo. Muitas vezes não é tão simples resumir uma frase complexa ou quebrá-la em períodos menores. No entanto, devo admitir que é muito comum ver erros de concordância em frases mais longas, geralmente causados pelo grande distanciamento entre os termos que deveriam concordar.

O truque para detectar esses é nos atentarmos aos núcleos do sujeito e do predicado.

Num blog sobre cinema, encontrei o seguinte trecho, que me motivou a escrever este artigo:

“Tudo que os Vingadores enfrentaram até agora os conduziram até esse momento. O destino da Terra e a existência em si nunca estiveram mais ameaçadas.”

Nos dois casos, há erro de concordância. Um verbal e outro nominal.

Analisemos a primeira:

“Tudo que os Vingadores enfrentaram até agora os conduziram até esse momento.”

O núcleo do sujeito é “tudo”. Porém, nessa frase, ele vem acompanhado de vários acessórios, ficando assim: “Tudo que os Vingadores enfrentaram até agora”. Isso tudo é o sujeito. Dentro dele, ainda há uma oração subordinada adjetiva restritiva. Essa oração restringe a palavra “tudo”, isto é, define que não é qualquer “tudo”, mas apenas o “que os Vingadores enfrentaram até agora”.

Acontece que o verbo conduzir refere-se a esse núcleo do sujeito e com ele deve concordar. Não se diz “tudo conduziram”, mas “tudo conduziu”. Portanto, a primeira frase só ficará correta se for: “Tudo que os Vingadores enfrentaram até agora os conduziu até esse momento.”

Agora vamos à segunda frase: “O destino da Terra e a existência em si nunca estiveram mais ameaçadas”. Neste caso temos um sujeito composto: “O destino da Terra” e “a existência em si”, cujos núcleos são “destino” (masculino) e “existência” (feminino).

Quando temos um conjunto formado de palavras masculinas e femininas, e um adjetivo comum relacionado a essas duas palavras, esse adjetivo deve estar no masculino plural. Portanto, “destino” e “existência” estão “ameaçados”. Eles não podem estar “ameaçadas”.

Logo, a frase escrita corretamente ficaria: “O destino da Terra e a existência em si nunca estiveram mais ameaçados.

Esses dois erros poderiam ser evitados se fosse dada atenção ao núcleo do sujeito. Concordância verbal e nominal não são difíceis, mas a distância entre os termos na oração pode dificultar a identificação de quem concorda com quem.